terça-feira, 31 de agosto de 2010

Euclides da Cunha



Euclides Rodrigues da Cunha (Cantagalo, 20 de janeiro de 1866 — Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1909) foi um escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador, geógrafo, poeta e engenheiro brasileiro.


Biografia


Órfão de Cantagalo


Órfão de mãe desde os 4 anos de idade, foi educado pelas tias na Bahia. Frequentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha.


Cadete republicano


Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888, desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de S. Paulo.


Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil.


Ciclo de Canudos


Durante a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos intitulados A nossa Vendeia que lhe valeram um convite d'O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior.


Em Canudos, Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta de Campo. Fraco e doente, o menino é trazido para São Paulo, onde Euclides o entrega a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero Prestes.


Livro vingador


Euclides deixou Canudos quatro dias antes do final da guerra, não chegando a presenciar o desenlace final. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902). Os Sertões foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma ponte metálica. O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia, comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha.


Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeram vagas para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Divide-se em três partes: A terra, O homem e A luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro


Ciclo amazônico


Em agosto de 1904, Euclides foi nomeado chefe da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e o Peru. Esta experiência resultou em sua obra póstuma À Margem da História, onde denunciou a exploração dos seringueiros na floresta. Ele partiu de Manaus para as nascentes do rio Purus, chegando adoentado em agosto de 1905. Dando continuidade aos estudos de limites, Euclides escreveu o ensaio Peru versus Bolívia, publicado em 1907. Escreveu, também durante esta viagem, o texto Judas-Ahsverus, considerado um dos textos mais filosófica e poeticamente aprofundados de sua autoria.


Após retornar da Amazônia, Euclides proferiu a conferência Castro Alves e seu tempo, prefaciou os livros Inferno verde, de Alberto Rangel, e Poemas e canções, de Vicente de Carvalho


Concurso de lógica


Visando uma vida mais estável, o que se mostrava impossível na carreira de engenheiro, Euclides prestou concurso para assumir a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II. O filósofo Farias Brito foi o primeiro colocado, mas a lei previa que o presidente da república escolheria o catedrático entre os dois primeiros. Graças à intercessão de amigos, Euclides foi nomeado. Depois de sua morte, Farias Brito acabaria ocupando a cátedra em questão.


Academia Brasileira de Letras


Foi eleito em 21 de setembro de 1903 para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Valentim Magalhães, e recebido em 18 de dezembro de 1906 pelo acadêmico Sílvio Romero.


"Tragédia da Piedade"


Sua esposa, mais conhecida como Anna de Assis, tornou-se amante de um jovem tenente, 17 anos mais novo do que ela, chamado Dilermando de Assis. Ainda casada com Euclides, teve dois filhos de Dilermando. Um deles morreu ainda bebê. O outro filho era chamado por Euclides de "a espiga de milho no meio do cafezal", por ser o único louro numa família de morenos. Aparentemente, Euclides aceitou como seu esse menino louro. A traição de Ana desencadeou uma tragédia em 1909, quando Euclides teria entrado na casa de Dilermando, armado, dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando reagiu e matou-o. Foi julgado pela justiça militar e absolvido. Entretanto, até hoje o episódio permanece em discussão. Casou-se com Ana. O casamento durou 15 anos.


O corpo de Euclides foi velado na Academia Brasileira de Letras. O médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o atestado de óbito, mais tarde ocuparia sua cadeira na Academia.


Semana Euclidiana


A cidade de São José do Rio Pardo realiza todos os anos, entre 9 e 15 de agosto, a Semana Euclidiana, em memória do escritor que ali vivia quando escreveu sua obra-prima Os Sertões. São José do Rio Pardo tornou-se uma cidade turística conhecida como O berço de Os Sertões.


Também em São Carlos celebra-se todos os anos, uma Semana Euclidiana, em homenagem ao escritor que morou na cidade entre 1901 e meados de 1903, ali terminando seu trabalho Os Sertões e o publicando em 1902.


Cronologia


• 1866, 20 de janeiro - Nascimento no arraial de Santa Rita do Rio Negro (hoje "Euclidelândia"), município de Cantagalo, então província do Rio de Janeiro, onde vive até os três anos, quando falece sua mãe Eudóxia Moreira da Cunha.


• 1879 - Completa os seus estudos primários (atual Ensino Fundamental) no Colégio Caldeira.


• 1880 - Inicia o curso secundário (atual Ensino Médio). Frequenta os Colégios Anglo-Americano, Vitório da Costa e Menezes Dória.


• 1883 - Aos 18 anos de idade, é matriculado no Colégio Aquino, onde faz exames de Geografia, Francês, Retórica e História.


• 1884 - Publica no Colégio Aquino os primeiros artigos no jornal O Democrata, fundado por ele e seus colegas.


• 1885 - Ingressa na Escola Politécnica para cursar Engenharia, mas é obrigado a desistir por motivos financeiros.


• 1886 - Em 20 de fevereiro, aos 21 anos de idade, assenta praça na Escola Militar da Praia Vermelha, sendo aluno de Benjamin Constant, conhecido positivista.


• 1887 - Colabora na Revista da Família Acadêmica.


• 1888 - O imperador tranca a sua matrícula na Escola Militar da Praia Vermelha por seu ato de protesto durante uma visita do Ministro da Guerra, conselheiro Tomás Coelho, do último gabinete conservador da monarquia. Euclides colabora, com a série "A Pátria e a Dinastia", no jornal A Província de São Paulo.


• 1889 - Retorno à Escola Militar da Praia Vermelha, graças à proclamação da República e ao seu sogro, general Sólon Ribeiro.


• 1891 - Conclui curso na Escola Superior de Guerra.


• 1892 - É promovido a primeiro-tenente de Artilharia e designado para coadjuvante de ensino teórico na Escola Militar.


• 1893 - Nasce Sólon da Cunha, seu primeiro filho. Euclides dirige as obras de fortificações das trincheiras da Saúde durante a Revolta da Armada.


• 1894 - Incidente do jornal O Tempo. Respondendo ao senador cearense João Cordeiro, que desejava penas severas aos adversários políticos, Euclides escreve duas cartas para a Gazeta de Notícias, em que defende o Estado democrático e a não violência. Por isso, passa a ser visto com desconfiança pelos legalistas.


• 1895 - É "exilado" para Campanha, em Minas Gerais, onde constrói e inaugura a estrada de ferro.


• Viaja pelo interior de São Paulo como Superintendente de Obras Públicas do Estado, cargo exercido até 1903.


• Nasce Euclides Filho, seu segundo filho com "Saninha".


• 1896 - Desliga-se do Exército para dedicar-se à engenharia civil. Podendo pedir a Floriano Peixoto um cargo em qualquer esfera do governo, pois tinha sido um fervoroso republicano, Euclides decide o que a lei designa para os recém-formados: estágio na Estrada de Ferro Central do Brasil.


• 1897 - Euclides escreve dois artigos sob o título "A nossa Vendeia", comparando os canudenses aos revoltosos da Vendeia.


• Júlio de Mesquita, do jornal O Estado de S. Paulo, convida-o para acompanhar a campanha de Canudos como correspondente. Nomeado adido ao Estado-Maior do Ministério da Guerra, Euclides segue para Canudos. Cobre a última fase da campanha de Canudos. De 7 de agosto a 1 de outubro fica no sertão, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo.


• 1898-1901 - Muda-se para São José do Rio Pardo, onde trabalha na construção de uma ponte metálica sobre o Rio Pardo. Começa a escrever Os Sertões.


• 1898 - Começa a publicar Os Sertões no artigo "Excerto de um livro inédito". Além disso, trabalha como engenheiro em São Paulo.


• 1901 - Nasce em São José do Rio Pardo, Manuel Afonso Albertina, o terceiro filho de Euclides. Manuel Afonso seria o único a deixar descendentes.


• 1901 - Muda-se para São Carlos (interior de São Paulo), onde foi engenheiro da construção da Escola Paulino Carlos, onde fica até meados de 1903.


• 1902 - Publica a obra Os Sertões pela Laemmert & Cia., considerada como precursora da Sociologia e da literatura modernista no Brasil, juntamente com Canaã, de Graça Aranha.


• 1903 - Euclides muda-se para Lorena, onde continua trabalhando como engenheiro.


• 1903 - É eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Valentim Magalhães. Euclides pede demissão da Superintendência de Obras Públicas de São Paulo.


• 1903 - Posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


• 1905 - Euclides é nomeado chefe de seção da Comissão de Saneamento de Santos. Percorre Santos e Guarujá. Pede demissão do cargo.


• Realiza viagem heroica pelo rio Purus, na Amazônia, chefiando missão oficial do Ministério das Relações Exteriores que decidiria sobre o litígio de fronteira entre o Brasil e o Peru. Percorre cerca de 6.400 quilômetros de navegação, alguns trechos inclusive a pé.


• 1906 - Euclides volta ao Rio de Janeiro como adido ao gabinete do Barão do Rio Branco e publica o Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus.


• Nasce Mauro, filho de sua mulher com o tenente Dilermando de Assis. O menino vem a falecer uma semana depois.


• 1907 - Publica Contrastes e confrontos, artigos e breves ensaios reunidos por um editor português, e Peru versus Bolívia. Profere a conferência "Castro Alves e seu tempo" no Centro Acadêmico XI de Agosto (São Paulo).


• 1909 - Presta exame para a cátedra de Lógica no Colégio Pedro II. Contudo, não chega a dar muitas aulas.


• 1909, 15 de agosto - Tenta matar o jovem Dilermando de Assis, amante de sua esposa, mas este reage e Euclides da Cunha é morto a tiros, no bairro da Piedade, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Até hoje o episódio, conhecido como Tragédia da Piedade, é alvo de controvérsias.


Lista de obras


1884


• CUNHA, Euclides da. Em viagem: folhetim. O Democrata, Rio de Janeiro, 4 abr. 1884.


1887


• A flor do cárcere. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (1): 10, nov. 1887.


1888


• A Pátria e a Dinastia. A Província de São Paulo, 22 dez. 1888.


• Críticos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(7): 209-213, maio 1888.


• Estâncias. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (10): 366, out. 1888.


• Fazendo versos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(3): 87-88, jan. 1888.


• Heróis de ontem. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(8): 227-8, jun. 1888.


• Stella. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(9): 265, jul. 1888.


1889


• Atos e palavras. A Província de São Paulo, 10-12, 15, 16, 18, 23, 24 jan. 1889.


• Da corte. A Província de São Paulo, maio 1889.


• Homens de hoje. A Província de São Paulo, 22 e 28 jun. 1889.


1890


• Divagando. Democracia, Rio de Janeiro, 26 abr. 1890.


• Divagando. Democracia, 24 maio 1890.


• Divagando. Democracia, 2 jun. 1890.


• O ex-imperador. Democracia, 3 mar. 1890.


• Sejamos francos. Democracia, Rio de Janeiro, 18 mar. 1890.


1892


• Da penumbra. O Estado de São Paulo, 15, 17 e 19 mar. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 29 e 31 mar. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1-3, 5-8, 10, 13, 17, 20, 24 e 27 abr. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1, 8, 11, 15, 18 e 22 maio 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 5, 12, 22 e 29 jun. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 3 e 6 jul. 1892.


• Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 24 maio 1892.


• Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 1o. jun. 1892.


1894


• A dinamite. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 20 fev. 1894.


1897


• A nossa Vendeia. O Estado de São Paulo, 14 mar. 1897 e 17 jul. 1897.


• Anchieta. O Estado de São Paulo, 9 jun. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 18 e 22-29 ago. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 1, 3, 9, 12, 14, 21, 26 e 27 set. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 11-13, 20, 21 e 25 out. 1897.


• Distribuição dos vegetais no Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo, 4 mar. 1897.


• Estudos de higiene: crítica ao livro do mesmo título do Doutor Torquato Tapajós. O Estado de S. Paulo, 4, 9 e 14 maio 1897.


• O Argentaurum. O Estado de S. Paulo, 2 jul. 1897.


• O batalhão de São Paulo. O Estado de S. Paulo, 26 out. 1897.


1898


• O "Brasil mental". O Estado de S. Paulo, 10-12 jul. 1898.


• Excerto de um livro inédito. O Estado de S. Paulo, 19 jan. 1898.


• Fronteira sul do Amazonas. O Estado de S. Paulo, 14 nov. 1898.


1899


• A guerra no sertão [fragmento]. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 19 (92/93): 270-281, ago./set. 1899.


1900


• As secas do Norte. O Estado de S. Paulo, 29, 30 out. 1900 e 1o. nov. 1900.


• O IV Centenário do Brasil. O Rio Pardo, São José do Rio Pardo, 6 maio 1900.


1901


• O Brasil no século XIX. O Estado de S. Paulo, 31 jan. 1901.


1902


• Os Sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1902. vii + 632 p. il.


• Ao longo de uma estrada. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 jan. 1902.


• Olhemos para os sertões. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 e 19 mar. 1902.


1903


• Os Sertões: campanha de Canudos. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert, 1903. vii + 618 p. il.


• Viajando… O Estado de São Paulo, São Paulo, 8 set. 1903.


• À margem de um livro. O Estado de São Paulo, São Paulo, 6 e 7 nov. 1903.


• Os batedores da Inconfidência. O Estado de São Paulo, São Paulo, 21 abr. 1903.


• Posse no Instituto Histórico. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 66 (2): 288-93, 1903.


1904


• A arcádia da Alemanha. O Estado de São Paulo, 6 ago. 1904.


• Civilização. O Estado de São Paulo, 10 jul. 1904.


• Conflito inevitável. O Estado de São Paulo, 14 maio 1904.


• Contra os caucheiros. O Estado de São Paulo, 22 maio 1904.


• Entre as ruínas. O Paiz, Rio de Janeiro, 15 ago. 1904.


• Entre o Madeira e o Javari. O Estado de São Paulo, 29 maio 1904.


• Heróis e bandidos. O Paiz, Rio de Janeiro, 11, jun. 1904.


• O marechal de ferro. O Estado de São Paulo, 29 jun. 1904.


• Um velho problema. O Estado de São Paulo, 1o. maio 1904.


• Uma comédia histórica. O Estado de São Paulo, 25 jun. 1904.


• Vida das estátuas. O Paiz, Rio de Janeiro, 21 jul. 1904.


1905


• Os Sertões: campanha de Canudos. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905, vii + 618 p. il.


• Rio abandonado: o Purus. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 68 (2): 337-89, 1905.


• Os trabalhos da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus [Entrevista]. Jornal do Commercio, Manaus, 29 out. 1905.


1906


• Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus: 1904-1905. notas do comissariado brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1906. 76 p. mapas.


• Da Independência à República. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 69 (2): 7-71, 1906.


• Os nossos "autógrafos". Renascença, Rio de Janeiro, 3 (34): 276, dez. 1906.


1907


• Contrastes e confrontos. Pref. José Pereira de Sampaio (Bruno). Porto: Empresa Literária e Tpográfica, 1907. 257 p.


• Contrastes e confrontos. 2. ed. ampliada. Estudo de Araripe Júnior. Porto: Empresa Literária e Tipográfica, 1907. 384 p. il.


• Peru 'versus' Bolívia. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1907. 201 p. il.


• Castro Alves e seu tempo. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 3 dez. 1907.


• Entre os seringais. Kosmos, Rio de Janeiro, 3 (1), jan. 1906.


• O valor de um símbolo. O Estado de São Paulo, 23 dez. 1907.


1908


• La cuestión de limites entre Bolívia y el Peru. trad. Eliosoro Vilazón. Buenos Aires: Cia Sud-Americana de Billetes de Banco, 1908.


• Martín Garcia. Buenos Aires: Cori Hermanos, 1908. 113 p.


• Numa volta do passado. Kosmos, Rio de Janeiro, 5 (10), out. 1908.


• Parecer acerca dos trabalhos do Sr. Fernando A. Gorette. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 71 (2): 540-543, 1908.


• A última visita. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 30 set. e 1o. out. 1908.


1909


• Amazônia. Revista Americana, Rio de Janeiro, 1 (2): 178-188, nov. 1909.


• A verdade e o erro: prova escrita do concurso de lógica do Ginásio Nacional [17 maio 1909]. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 2 jun. 1909.


• Um atlas do Brasil: último trabalho do Dr. Euclides da Cunha. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 29 ago. 1909.


Obras póstumas


• À margem da história''. Porto: Chardron, Lello, 1909. 390 p. il.


1975


• Caderneta de campo. Introd., notas e coment. por Olímpio de Souza Andrade. São Paulo, Cultrix; Brasília, INL, 1975. xxxii, 197 p. il.


• Canudos: diário de uma expedição. Introd. de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. xxv, 186 p. il.


• Ondas. Coleção de poesias escritas por Euclides da Cunha em 1883, publicadas em 1966, na "Obra Completa de Euclides da Cunha", pela Editora Aguilar, e em volume autônomo em 2005, pela Editora Martin Claret, com prefácio de Márcio José Lauria.


Adaptações


Filmes, documentários e séries


• DESEJO. Direção de Wolf Maya (direção geral) e Denise Saraceni; Euclides da Cunha interpretado por Tarcísio Meira. Rio de Janeiro: Som Livre, 2005. Color. 1 DVD. minissérie em 17 capítulos (657 min.).


• EPOPÉIA EUCLYDEACREANA. Direção de Rodrigo Neves, produzido por Charlene Lima, narrado por Caros Vereza, fotografia de Celso Kava. São Paulo: Cultura Marcas, 2006. Color. 1 DVD.[13]


• OS SERTÕES. Direção de Cristina Fonseca. São Paulo: TV Cultura de São Paulo, 1995. Color. 1 filme (67 min.) (Série Leituras do Brasil).


• EUCLIDES DA CUNHA. Direção de Humberto Mauro. 1944. P&B. (14 min.).


• GUERRA DE CANUDOS. Direção de Sérgio Rezende. 1 DVD (170 min.).


• DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL. Direção de Glauber Rocha, Walter Lima Júnior. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 1964. P&B. 1 fita de VHS (125 min.).


• A MATADEIRA. Direção e roteiro por Jorge Furtado. 1994. Color. 1 filme (16 min.).


• OS SERTÕES: ano 100. Direção Tâmis Parron. São Paulo: SPVD; CCS; USP, 2002. Color. VHS (28 min.)


Ópera


• LE SERTON: Grand opera brésilien en 4 actes sur L'Epopée de Canudos. Poeme et musique Fernand Joutex. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Belo Horizonte, 1953. 59 p.


Peça teatral


• OS SERTÕES. Direção de José Celso Martinez Corrêa. São Paulo, Teatro Oficina, 2002-07.


Livros - adaptações de Os Sertões


• A BRAZILIAN MYSTIC: being the life and miracles of Antonio Conselheiro. R. B. Cunninghame Graham. Londres, 1919


• THE SAGE OF CANUDOS. Lucien Marchal. Paris: Librairie Plon, 1952


• LA GUERRA DEL FIN DEL MUNDO. Mario Vargas Llosa, 1981

Euclides da Cunha



Euclides Rodrigues da Cunha (Cantagalo, 20 de janeiro de 1866 — Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1909) foi um escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador, geógrafo, poeta e engenheiro brasileiro.



Biografia


Órfão de Cantagalo


Órfão de mãe desde os 4 anos de idade, foi educado pelas tias na Bahia. Frequentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha.


Cadete republicano


Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888, desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de S. Paulo.


Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil.


Ciclo de Canudos


Durante a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos intitulados A nossa Vendeia que lhe valeram um convite d'O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior.


Em Canudos, Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta de Campo. Fraco e doente, o menino é trazido para São Paulo, onde Euclides o entrega a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero Prestes.


Livro vingador


Euclides deixou Canudos quatro dias antes do final da guerra, não chegando a presenciar o desenlace final. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902). Os Sertões foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma ponte metálica. O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia, comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha.


Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeram vagas para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Divide-se em três partes: A terra, O homem e A luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro


Ciclo amazônico


Em agosto de 1904, Euclides foi nomeado chefe da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e o Peru. Esta experiência resultou em sua obra póstuma À Margem da História, onde denunciou a exploração dos seringueiros na floresta. Ele partiu de Manaus para as nascentes do rio Purus, chegando adoentado em agosto de 1905. Dando continuidade aos estudos de limites, Euclides escreveu o ensaio Peru versus Bolívia, publicado em 1907. Escreveu, também durante esta viagem, o texto Judas-Ahsverus, considerado um dos textos mais filosófica e poeticamente aprofundados de sua autoria.


Após retornar da Amazônia, Euclides proferiu a conferência Castro Alves e seu tempo, prefaciou os livros Inferno verde, de Alberto Rangel, e Poemas e canções, de Vicente de Carvalho


Concurso de lógica


Visando uma vida mais estável, o que se mostrava impossível na carreira de engenheiro, Euclides prestou concurso para assumir a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II. O filósofo Farias Brito foi o primeiro colocado, mas a lei previa que o presidente da república escolheria o catedrático entre os dois primeiros. Graças à intercessão de amigos, Euclides foi nomeado. Depois de sua morte, Farias Brito acabaria ocupando a cátedra em questão.


Academia Brasileira de Letras


Foi eleito em 21 de setembro de 1903 para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Valentim Magalhães, e recebido em 18 de dezembro de 1906 pelo acadêmico Sílvio Romero.


"Tragédia da Piedade"


Sua esposa, mais conhecida como Anna de Assis, tornou-se amante de um jovem tenente, 17 anos mais novo do que ela, chamado Dilermando de Assis. Ainda casada com Euclides, teve dois filhos de Dilermando. Um deles morreu ainda bebê. O outro filho era chamado por Euclides de "a espiga de milho no meio do cafezal", por ser o único louro numa família de morenos. Aparentemente, Euclides aceitou como seu esse menino louro. A traição de Ana desencadeou uma tragédia em 1909, quando Euclides teria entrado na casa de Dilermando, armado, dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando reagiu e matou-o. Foi julgado pela justiça militar e absolvido. Entretanto, até hoje o episódio permanece em discussão. Casou-se com Ana. O casamento durou 15 anos.


O corpo de Euclides foi velado na Academia Brasileira de Letras. O médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o atestado de óbito, mais tarde ocuparia sua cadeira na Academia.


Semana Euclidiana


A cidade de São José do Rio Pardo realiza todos os anos, entre 9 e 15 de agosto, a Semana Euclidiana, em memória do escritor que ali vivia quando escreveu sua obra-prima Os Sertões. São José do Rio Pardo tornou-se uma cidade turística conhecida como O berço de Os Sertões.


Também em São Carlos celebra-se todos os anos, uma Semana Euclidiana, em homenagem ao escritor que morou na cidade entre 1901 e meados de 1903, ali terminando seu trabalho Os Sertões e o publicando em 1902.


Cronologia


• 1866, 20 de janeiro - Nascimento no arraial de Santa Rita do Rio Negro (hoje "Euclidelândia"), município de Cantagalo, então província do Rio de Janeiro, onde vive até os três anos, quando falece sua mãe Eudóxia Moreira da Cunha.


• 1879 - Completa os seus estudos primários (atual Ensino Fundamental) no Colégio Caldeira.


• 1880 - Inicia o curso secundário (atual Ensino Médio). Frequenta os Colégios Anglo-Americano, Vitório da Costa e Menezes Dória.


• 1883 - Aos 18 anos de idade, é matriculado no Colégio Aquino, onde faz exames de Geografia, Francês, Retórica e História.


• 1884 - Publica no Colégio Aquino os primeiros artigos no jornal O Democrata, fundado por ele e seus colegas.


• 1885 - Ingressa na Escola Politécnica para cursar Engenharia, mas é obrigado a desistir por motivos financeiros.


• 1886 - Em 20 de fevereiro, aos 21 anos de idade, assenta praça na Escola Militar da Praia Vermelha, sendo aluno de Benjamin Constant, conhecido positivista.


• 1887 - Colabora na Revista da Família Acadêmica.


• 1888 - O imperador tranca a sua matrícula na Escola Militar da Praia Vermelha por seu ato de protesto durante uma visita do Ministro da Guerra, conselheiro Tomás Coelho, do último gabinete conservador da monarquia. Euclides colabora, com a série "A Pátria e a Dinastia", no jornal A Província de São Paulo.


• 1889 - Retorno à Escola Militar da Praia Vermelha, graças à proclamação da República e ao seu sogro, general Sólon Ribeiro.


• 1891 - Conclui curso na Escola Superior de Guerra.


• 1892 - É promovido a primeiro-tenente de Artilharia e designado para coadjuvante de ensino teórico na Escola Militar.


• 1893 - Nasce Sólon da Cunha, seu primeiro filho. Euclides dirige as obras de fortificações das trincheiras da Saúde durante a Revolta da Armada.


• 1894 - Incidente do jornal O Tempo. Respondendo ao senador cearense João Cordeiro, que desejava penas severas aos adversários políticos, Euclides escreve duas cartas para a Gazeta de Notícias, em que defende o Estado democrático e a não violência. Por isso, passa a ser visto com desconfiança pelos legalistas.


• 1895 - É "exilado" para Campanha, em Minas Gerais, onde constrói e inaugura a estrada de ferro.


• Viaja pelo interior de São Paulo como Superintendente de Obras Públicas do Estado, cargo exercido até 1903.


• Nasce Euclides Filho, seu segundo filho com "Saninha".


• 1896 - Desliga-se do Exército para dedicar-se à engenharia civil. Podendo pedir a Floriano Peixoto um cargo em qualquer esfera do governo, pois tinha sido um fervoroso republicano, Euclides decide o que a lei designa para os recém-formados: estágio na Estrada de Ferro Central do Brasil.


• 1897 - Euclides escreve dois artigos sob o título "A nossa Vendeia", comparando os canudenses aos revoltosos da Vendeia.


• Júlio de Mesquita, do jornal O Estado de S. Paulo, convida-o para acompanhar a campanha de Canudos como correspondente. Nomeado adido ao Estado-Maior do Ministério da Guerra, Euclides segue para Canudos. Cobre a última fase da campanha de Canudos. De 7 de agosto a 1 de outubro fica no sertão, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo.


• 1898-1901 - Muda-se para São José do Rio Pardo, onde trabalha na construção de uma ponte metálica sobre o Rio Pardo. Começa a escrever Os Sertões.


• 1898 - Começa a publicar Os Sertões no artigo "Excerto de um livro inédito". Além disso, trabalha como engenheiro em São Paulo.


• 1901 - Nasce em São José do Rio Pardo, Manuel Afonso Albertina, o terceiro filho de Euclides. Manuel Afonso seria o único a deixar descendentes.


• 1901 - Muda-se para São Carlos (interior de São Paulo), onde foi engenheiro da construção da Escola Paulino Carlos, onde fica até meados de 1903.


• 1902 - Publica a obra Os Sertões pela Laemmert & Cia., considerada como precursora da Sociologia e da literatura modernista no Brasil, juntamente com Canaã, de Graça Aranha.


• 1903 - Euclides muda-se para Lorena, onde continua trabalhando como engenheiro.


• 1903 - É eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Valentim Magalhães. Euclides pede demissão da Superintendência de Obras Públicas de São Paulo.


• 1903 - Posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


• 1905 - Euclides é nomeado chefe de seção da Comissão de Saneamento de Santos. Percorre Santos e Guarujá. Pede demissão do cargo.


• Realiza viagem heroica pelo rio Purus, na Amazônia, chefiando missão oficial do Ministério das Relações Exteriores que decidiria sobre o litígio de fronteira entre o Brasil e o Peru. Percorre cerca de 6.400 quilômetros de navegação, alguns trechos inclusive a pé.


• 1906 - Euclides volta ao Rio de Janeiro como adido ao gabinete do Barão do Rio Branco e publica o Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus.


• Nasce Mauro, filho de sua mulher com o tenente Dilermando de Assis. O menino vem a falecer uma semana depois.


• 1907 - Publica Contrastes e confrontos, artigos e breves ensaios reunidos por um editor português, e Peru versus Bolívia. Profere a conferência "Castro Alves e seu tempo" no Centro Acadêmico XI de Agosto (São Paulo).


• 1909 - Presta exame para a cátedra de Lógica no Colégio Pedro II. Contudo, não chega a dar muitas aulas.


• 1909, 15 de agosto - Tenta matar o jovem Dilermando de Assis, amante de sua esposa, mas este reage e Euclides da Cunha é morto a tiros, no bairro da Piedade, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Até hoje o episódio, conhecido como Tragédia da Piedade, é alvo de controvérsias.


Lista de obras


1884


• CUNHA, Euclides da. Em viagem: folhetim. O Democrata, Rio de Janeiro, 4 abr. 1884.


1887


• A flor do cárcere. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (1): 10, nov. 1887.


1888


• A Pátria e a Dinastia. A Província de São Paulo, 22 dez. 1888.


• Críticos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(7): 209-213, maio 1888.


• Estâncias. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (10): 366, out. 1888.


• Fazendo versos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(3): 87-88, jan. 1888.


• Heróis de ontem. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(8): 227-8, jun. 1888.


• Stella. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(9): 265, jul. 1888.


1889


• Atos e palavras. A Província de São Paulo, 10-12, 15, 16, 18, 23, 24 jan. 1889.


• Da corte. A Província de São Paulo, maio 1889.


• Homens de hoje. A Província de São Paulo, 22 e 28 jun. 1889.


1890


• Divagando. Democracia, Rio de Janeiro, 26 abr. 1890.


• Divagando. Democracia, 24 maio 1890.


• Divagando. Democracia, 2 jun. 1890.


• O ex-imperador. Democracia, 3 mar. 1890.


• Sejamos francos. Democracia, Rio de Janeiro, 18 mar. 1890.


1892


• Da penumbra. O Estado de São Paulo, 15, 17 e 19 mar. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 29 e 31 mar. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1-3, 5-8, 10, 13, 17, 20, 24 e 27 abr. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1, 8, 11, 15, 18 e 22 maio 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 5, 12, 22 e 29 jun. 1892.


• Dia a dia. O Estado de São Paulo, 3 e 6 jul. 1892.


• Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 24 maio 1892.


• Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 1o. jun. 1892.


1894


• A dinamite. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 20 fev. 1894.


1897


• A nossa Vendeia. O Estado de São Paulo, 14 mar. 1897 e 17 jul. 1897.


• Anchieta. O Estado de São Paulo, 9 jun. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 18 e 22-29 ago. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 1, 3, 9, 12, 14, 21, 26 e 27 set. 1897.


• Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 11-13, 20, 21 e 25 out. 1897.


• Distribuição dos vegetais no Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo, 4 mar. 1897.


• Estudos de higiene: crítica ao livro do mesmo título do Doutor Torquato Tapajós. O Estado de S. Paulo, 4, 9 e 14 maio 1897.


• O Argentaurum. O Estado de S. Paulo, 2 jul. 1897.


• O batalhão de São Paulo. O Estado de S. Paulo, 26 out. 1897.


1898


• O "Brasil mental". O Estado de S. Paulo, 10-12 jul. 1898.


• Excerto de um livro inédito. O Estado de S. Paulo, 19 jan. 1898.


• Fronteira sul do Amazonas. O Estado de S. Paulo, 14 nov. 1898.


1899


• A guerra no sertão [fragmento]. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 19 (92/93): 270-281, ago./set. 1899.


1900


• As secas do Norte. O Estado de S. Paulo, 29, 30 out. 1900 e 1o. nov. 1900.


• O IV Centenário do Brasil. O Rio Pardo, São José do Rio Pardo, 6 maio 1900.


1901


• O Brasil no século XIX. O Estado de S. Paulo, 31 jan. 1901.


1902


• Os Sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1902. vii + 632 p. il.


• Ao longo de uma estrada. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 jan. 1902.


• Olhemos para os sertões. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 e 19 mar. 1902.


1903


• Os Sertões: campanha de Canudos. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert, 1903. vii + 618 p. il.


• Viajando… O Estado de São Paulo, São Paulo, 8 set. 1903.


• À margem de um livro. O Estado de São Paulo, São Paulo, 6 e 7 nov. 1903.


• Os batedores da Inconfidência. O Estado de São Paulo, São Paulo, 21 abr. 1903.


• Posse no Instituto Histórico. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 66 (2): 288-93, 1903.


1904


• A arcádia da Alemanha. O Estado de São Paulo, 6 ago. 1904.


• Civilização. O Estado de São Paulo, 10 jul. 1904.


• Conflito inevitável. O Estado de São Paulo, 14 maio 1904.


• Contra os caucheiros. O Estado de São Paulo, 22 maio 1904.


• Entre as ruínas. O Paiz, Rio de Janeiro, 15 ago. 1904.


• Entre o Madeira e o Javari. O Estado de São Paulo, 29 maio 1904.


• Heróis e bandidos. O Paiz, Rio de Janeiro, 11, jun. 1904.


• O marechal de ferro. O Estado de São Paulo, 29 jun. 1904.


• Um velho problema. O Estado de São Paulo, 1o. maio 1904.


• Uma comédia histórica. O Estado de São Paulo, 25 jun. 1904.


• Vida das estátuas. O Paiz, Rio de Janeiro, 21 jul. 1904.


1905


• Os Sertões: campanha de Canudos. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905, vii + 618 p. il.


• Rio abandonado: o Purus. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 68 (2): 337-89, 1905.


• Os trabalhos da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus [Entrevista]. Jornal do Commercio, Manaus, 29 out. 1905.


1906


• Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus: 1904-1905. notas do comissariado brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1906. 76 p. mapas.


• Da Independência à República. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 69 (2): 7-71, 1906.


• Os nossos "autógrafos". Renascença, Rio de Janeiro, 3 (34): 276, dez. 1906.


1907


• Contrastes e confrontos. Pref. José Pereira de Sampaio (Bruno). Porto: Empresa Literária e Tpográfica, 1907. 257 p.


• Contrastes e confrontos. 2. ed. ampliada. Estudo de Araripe Júnior. Porto: Empresa Literária e Tipográfica, 1907. 384 p. il.


• Peru 'versus' Bolívia. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1907. 201 p. il.


• Castro Alves e seu tempo. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 3 dez. 1907.


• Entre os seringais. Kosmos, Rio de Janeiro, 3 (1), jan. 1906.


• O valor de um símbolo. O Estado de São Paulo, 23 dez. 1907.


1908


• La cuestión de limites entre Bolívia y el Peru. trad. Eliosoro Vilazón. Buenos Aires: Cia Sud-Americana de Billetes de Banco, 1908.


• Martín Garcia. Buenos Aires: Cori Hermanos, 1908. 113 p.


• Numa volta do passado. Kosmos, Rio de Janeiro, 5 (10), out. 1908.


• Parecer acerca dos trabalhos do Sr. Fernando A. Gorette. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 71 (2): 540-543, 1908.


• A última visita. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 30 set. e 1o. out. 1908.


1909


• Amazônia. Revista Americana, Rio de Janeiro, 1 (2): 178-188, nov. 1909.


• A verdade e o erro: prova escrita do concurso de lógica do Ginásio Nacional [17 maio 1909]. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 2 jun. 1909.


• Um atlas do Brasil: último trabalho do Dr. Euclides da Cunha. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 29 ago. 1909.


Obras póstumas


• À margem da história''. Porto: Chardron, Lello, 1909. 390 p. il.


1975


• Caderneta de campo. Introd., notas e coment. por Olímpio de Souza Andrade. São Paulo, Cultrix; Brasília, INL, 1975. xxxii, 197 p. il.


• Canudos: diário de uma expedição. Introd. de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. xxv, 186 p. il.


• Ondas. Coleção de poesias escritas por Euclides da Cunha em 1883, publicadas em 1966, na "Obra Completa de Euclides da Cunha", pela Editora Aguilar, e em volume autônomo em 2005, pela Editora Martin Claret, com prefácio de Márcio José Lauria.


Adaptações


Filmes, documentários e séries


• DESEJO. Direção de Wolf Maya (direção geral) e Denise Saraceni; Euclides da Cunha interpretado por Tarcísio Meira. Rio de Janeiro: Som Livre, 2005. Color. 1 DVD. minissérie em 17 capítulos (657 min.).


• EPOPÉIA EUCLYDEACREANA. Direção de Rodrigo Neves, produzido por Charlene Lima, narrado por Caros Vereza, fotografia de Celso Kava. São Paulo: Cultura Marcas, 2006. Color. 1 DVD.[13]


• OS SERTÕES. Direção de Cristina Fonseca. São Paulo: TV Cultura de São Paulo, 1995. Color. 1 filme (67 min.) (Série Leituras do Brasil).


• EUCLIDES DA CUNHA. Direção de Humberto Mauro. 1944. P&B. (14 min.).


• GUERRA DE CANUDOS. Direção de Sérgio Rezende. 1 DVD (170 min.).


• DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL. Direção de Glauber Rocha, Walter Lima Júnior. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 1964. P&B. 1 fita de VHS (125 min.).


• A MATADEIRA. Direção e roteiro por Jorge Furtado. 1994. Color. 1 filme (16 min.).


• OS SERTÕES: ano 100. Direção Tâmis Parron. São Paulo: SPVD; CCS; USP, 2002. Color. VHS (28 min.)


Ópera


• LE SERTON: Grand opera brésilien en 4 actes sur L'Epopée de Canudos. Poeme et musique Fernand Joutex. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Belo Horizonte, 1953. 59 p.


Peça teatral


• OS SERTÕES. Direção de José Celso Martinez Corrêa. São Paulo, Teatro Oficina, 2002-07.


Livros - adaptações de Os Sertões


• A BRAZILIAN MYSTIC: being the life and miracles of Antonio Conselheiro. R. B. Cunninghame Graham. Londres, 1919


• THE SAGE OF CANUDOS. Lucien Marchal. Paris: Librairie Plon, 1952


• LA GUERRA DEL FIN DEL MUNDO. Mario Vargas Llosa, 1981

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Mário de Andrade

Retrato de Mário de Andrade por Tarsila do Amaral


Mário Raul de Moraes Andrade, (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) foi um poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo da época do movimento modernista no Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do país, participando ativamente da Semana de Arte Moderna de 22, além de se envolver (de 1934 a 37) com a cultura nacional trabalhando como diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.

Mário nasceu em São Paulo e construiu praticamente toda a sua vida na metrópole. Na cidade, estudou e também lecionou por muitos anos, desde cedo demonstrando sua paixão pela cidade. Durante seu tempo de vida, Mário criou vínculos fortes com outros nomes do país, se correspondendo frequentemente com grandes artistas brasileiros, dentre quais se destacam Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Fernando Sabino e Augusto Meyer, e veio a falecer em 1945 na mesma cidade em que nasceu, após três décadas de trabalho que desempenhou em estilo vanguarda.

Considerado o escritor mais nacionalista e múltiplo dos brasileiros, Mário construiu um caráter revolucionário na literatura brasileira, que se iniciou com Pauliceia Desvairada, onde analisa a cidade de São Paulo e todos seus elementos (provincianismo, aristocracia, burguesia, rio Tietê, Avenida Paulista). Mário também é considerado um dos primeiros musicólogos do país, e seu maior interesse era a música, particularmente os ritmos nordestinos, nos quais tentou pesquisar e valorizar, assim como fez com a Missão de Pesquisas Folclóricas, tentando criar um estudo e uma descoberta das raízes culturais do Brasil. Isso também ocorreu com seu romance mais famoso, Macunaíma, considerada uma das obras capitais da narrativa brasileira no século XX.

A importância de Mário de Andrade continua sendo ativamente expressa nos dias atuais, e ainda se fala sobre sua obra seja para estudo ou para a investigação do Brasil: o filósofo Leandro Konder considera que talvez essa atualidade seja resultado pelo destaque que Mário tinha sobre os outros nomes do modernismo, "pela amplitude de sua cultura, pela vastidão dos seus conhecimentos […] [porque] tinha uma visão panorâmica abrangente [e] dispunha de um quadro de referências muito mais rico do que todos os outros.

Primeiros anos

Andrade nasceu em São Paulo, cidade onde morou durante quase toda a vida, no número 320, Rua Aurora, onde seus pais, Carlos Augusto de Moraes Andrade e Maria Luísa Leite Moraes Andrade também viveram. Em sua infância foi considerado um prodígio pianista. Ao mesmo tempo, estudou história, arte, e especialmente poesia. Dominava a língua francesa: durante sua infância leu Rimbaud e os principais poetas simbolistas francês. Embora escrevesse poesia desde a mais tenra idade (seu primeiro poema é datado de 1904), sua primeira vocação foi musical, em 1911 foi matriculado no Conservatório de São Paulo.

Em 1913, seu irmão Renato, então com catorze anos, morreu de um golpe recebido enquanto jogava futebol, o que causou um profundo choque em Mario. Abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda em Araraquara. Este incidente marcou o fim de sua carreira como pianista, já que produziu um tremor em suas mãos que impediu-o de tocar. Por isso, decidiu tornar-se professor de música, ao mesmo tempo que começa a ter um interesse mais sério pela literatura. Em 1917, quando completou seus estudos piano, publicou seu primeiro livro de poemas, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, com o pseudônimo Mario Sobral. O livro já contém inícios da crescente sensibilidade em direção ao autor as características distintivas da identidade brasileira, mas, como a maior parte da poesia brasileira produzida na época, não se destacava pela originalidade: é evidente a sua influência da escola europeia, sobretudo francesa.

Na sequência da publicação de seu primeiro livro de poemas, Andrade decidiu ampliar o âmbito de sua escrita. Deixou São Paulo e viajou para o campo. Iniciou uma atividade que continuaria a fazer durante o resto da vida: o meticuloso trabalho de documentação sobre a história e a cultura (especialmente música) no interior do Brasil, tanto em São Paulo quanto Minas Gerais, que deixou-se profundamente interessado pela arte barroca do período colonial, como nas áreas agrestes no nordeste do país. Publicou ensaios em jornais de São Paulo, algumas vezes ilustrados por suas próprias fotografias, e foi, acima de tudo, acumulando informações sobre a vida e folclore brasileiro. Apesar dessas viagens, Andrade ainda lecionava piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, havendo sido também, como relata Oneyda Alvarenga, em "Mario de Andrade: O Homem de Todos Nós", aluno de estética do poeta Venceslau de Queirós. Sucedendo-o no Conservatório (após sua morte em 1921) tornou-se professor de História da Arte daquela instituição

Trabalhos

Semana de Arte Moderna

Ao mesmo tempo que Andrade efetuava seu trabalho como pesquisador do folclore brasileiro, fez amizade com um grupo de jovens artistas e escritores de São Paulo que, como ele, estavam interessados no modernismo europeu. Alguns deles mais tarde integrariam o chamado Grupo dos Cinco: ele próprio, Andrade, o poeta Oswald de Andrade (sem relação de parentesco com Mário de Andrade, apesar da coincidência de nomes) e Menotti del Picchia, além das pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. Malfatti havia visitado a Europa nos anos anteriores a Primeira Guerra Mundial, e foi a introdutora do expressionismo no Brasil.

Em 1922, ao mesmo tempo que preparava a publicação de Pauliceia desvairada, Andrade trabalhou com Malfatti e Oswald de Andrade em organizar um evento que se destinava a divulgar as criações do grupo modernista de São Paulo para uma audiência mais vasta: a Semana de Arte Moderna, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo entre 11 e 18 de fevereiro. Além de uma exposição de pinturas de Malfatti e de outros artistas associados ao modernismo, durante esses dias foram realizadas leituras literárias e palestras sobre arte, música e literatura. Andrade foi o principal organizador e um dos mais ativos participantes do evento, que, apesar de inicialmente recebida com ceticismo, atraiu uma grande audiência. Andrade, na ocasião, apresentou o esboço do ensaio que viria a publicar em 1925, a A Escrava que não é Isaura.

Os membros do Grupo dos Cinco continuaram trabalhando juntos durante a década de 1920, período durante o qual sua reputação cresceu e hostilidade por suas inovações foi gradualmente diminuindo. Mário de Andrade trabalhou, por exemplo, na "Revista de Antropofagia", fundada por Oswald de Andrade, em 1928 Mario e Oswald de Andrade foram os principais impulsionadores do movimento modernista brasileiro. De acordo com Paulo Mendes de Almeida, que era um amigo de ambos:

Missão de pesquisas folclóricas

Em 1935, durante uma era de instabilidade do governo Vargas, organizou, juntamente com o escritor e arqueólogo Paulo Duarte, um Departamento de Cultura para a unificação da cidade de São Paulo (Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo), onde Andrade se tornou diretor. Em 1938 Mário de Andrade reuniu uma equipe com o objetivo de catalogar músicas do Norte e Nordeste brasileiros.

Tinha como objetivo declarado, de acordo com a ata da sua fundação, "conquistar e divulgar para todo país a cultura brasileira". O âmbito de aplicação do recém-criado Departamento de Cultura foi bastante amplo: a investigação cultural e demográfica, como construção de parques e recriações, além de importantes publicações culturais.

Exerceu seu cargo com a ambição que o caracterizava: ampliar seu trabalho sobre música e folclore popular, ao mesmo tempo organizar exposições e conferências. As missões resultaram um vasto acervo registrados em vídeo, áudio, imagens, anotações musicais, dos lugares percorridos pela Missão de Pesquisas Folclóricas, o que pode ser considerado como um dos primeiros projetos multimédia da cultura brasileira. O material foi dividido de acordo com o caráter funcional das manifestações: músicas de dançar, cantar, trabalhar e rezar. Trouxe sua coleção fonográfica cultura para o Departamento, formando uma Discoteca Municipal, que era possivelmente as melhores e maiores reunidas no hemisfério.

Em um marco do Departamento de Cultura, Claude Lévi-Strauss, então professor visitante da Universidade de São Paulo, realizou pesquisas. Outro grande evento foi a Missão de Pesquisas Folclóricas, que 1938, visitou mais de trinta localidades em seis estados brasileiros em busca de material etnográfico, especialmente na música. A missão foi interrompida, no entanto, quando, em 1938, pouco depois de instaurado o Estado Novo (do qual era contrário), por Getúlio Vargas, Mário demitiu-se do departamento.

Mário de Andrade também foi um dos mentores e fundadores do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, junto com o advogado Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Limitações de ordem política e financeira impediram a realização desse projeto (que seria caracterizado por uma radical investida no inventário artístico e cultural de todo o país), restringindo as atribuições do instituto, fundado em 1937, à preservação de sítios e objetos históricos relacionados a fatos políticos históricos e ao legado religioso no país.

Mudou-se para o Rio de Janeiro para tomar posse de um novo posto na UFRJ, onde dirigiu o Congresso da Língua Nacional Cantada, um importante evento folclórico e musical. Em 1941 retornou para São Paulo e voltou ao antigo posto do Departamento de Cultura, apesar de não trabalhar com a mesma intensidade que antes.

Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um enfarte do miocárdio, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha 52 anos. Dadas as suas divergências com o regime, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicados em 1955, Poesias completas, quando já havia falecido o ditador Vargas, começou a consagração de Andrade como um dos principais valores culturais no Brasil. Em 1960 foi dado o seu nome à Biblioteca Municipal de São Paulo.

Obra

A sua segunda obra, Pauliceia desvairada, colocou-o entre os pioneiros do movimento modernista no Brasil, culminando, em 1922, como uma das figuras mais proeminentes da histórica Semana de Arte Moderna. Alguns dos seus livros de poesia mais conhecidos são: Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males, Poesias e Lira paulistana.

Pauliceia desvairada

O "prefácio interessantíssimo" é o prefácio de Mário de Andrade ao seu próprio livro Pauliceia Desvairada, considerado a base do modernismo brasileiro.mundocultural Abre com uma citação do escritor belga Émile Verhaeren, que é o autor de Villes Tentaculaires. O prefácio não fala do livro, mas sim de uma atitude geral perante a literatura. É uma espécie de manifesto poético, em versos livres.

No início do Prefácio ele próprio denuncia a sua atitude. Depois de afirmar que "está fundado o Desvairismo", afirma que o seu texto é meio a sério meio a brincar. O que lhe dá um caráter inconfundível de, por um lado, programa poético e, por outro, paródia. Assim o sério e o divertimento se misturam num todo sem fronteiras definidas. Repare-se ainda que é um texto muito assertivo, provocativo e polêmico no que é característico o Modernismo.

Num estilo rápido e solto, com ideias truncadas, e que atinge um efeito de grande dinamismo. Mário de Andrade luta por uma expressão nova, por uma expressão que não esteja agarrada a formas do passado: "escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto."

Outra das ideias expressas por Mário de Andrade neste Prefácio/Manifesto é que a língua portuguesa é uma opressão para a livre expressão do escritor no Brasil. Assim ele afirma que "A língua brasileira é das mais ricas e sonoras". Para reforçar esta ideia do brasileiro como língua, grafa propositadamente a ortografia de modo a ficar com o sotaque brasileiro. Assim aparece muitas vezes neste manifesto "si" em vez de "se". Neste ponto está a ser completamente contra os poetas parnasianos que defendiam uma ideia de que a língua portuguesa seria a língua dos bons e grandes escritores do passado. Neste ponto, Mário de Andrade é um nacionalista. Mas não admira Marinetti. É contra a rima. E contra todas as imposições externas. "A gramática apareceu depois de organizadas as línguas. Acontece que meu inconsciente não sabe da existência de gramáticas, nem de línguas organizadas". "Os portugueses dizem ir à cidade. Os brasileiros, na cidade. Eu sou brasileiro". (Citado por Celso Pedro Luft).

A ideia talvez mais importante deste Prefácio é a de Polifonia e de Liberdade. "Arroubos… Lutas… Setas… Cantigas… povoar!" (trecho da poesia Tietê) Estas palavras não se ligam. Não formam enumeração. Cada uma é frase, período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico".

Publicou, em 1928, Macunaíma o herói sem nenhum caráter e Ensaio sobre a Música Brasileira.

Em 1938 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de diretor do Instituto de Artes na antiga Universidade do Distrito Federal (hoje Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Regressando a São Paulo em 1942, regeu durante muitos anos a cadeira de História da Música no Conservatório Dramático e Musical.

Possuidor de uma cultura ampla e profunda erudição, foi o fundador e primeiro diretor do Departamento de Cultura de São Paulo da Prefeitura Municipal de São Paulo, onde implantou a Sociedade de Etnologia e Folclore, o Coral Paulistano e a Discoteca Pública Municipal.

Foi amigo e compartilhou os ideais estéticos modernistas de Oswald de Andrade.

O próximo livro de poemas por Andrade, Losango cáqui (publicado em 1926, mas escrito em 1922), continua na mesma linha do trabalho anterior. Em Clã do jabuti (1927) e Remate de males (1930), faz amplo uso da sua pesquisa etnográfica.

Desde 1930, coincidindo com a Revolução de 1930, a sua poesia sofre mudanças. Parte do seu trabalho posterior, como Poesia (1942), é resvala para um tom mais íntimo e sereno, embora mantenha uma outra linha de acusação e de política social, com obras como O Carro da miséria e Lira paulistana(1946).

Neste último trabalho pertence um longo poema intitulado "Meditação sôbre o Tietê", um livro denso e complexo, pelos críticos, foi descrito como seu primeiro trabalho "sem importância", apesar das animadoras críticas sobre o poema. A Meditação é um poema sobre a cidade e concentra-se no rio Tietê, que atravessa São Paulo. O poema é simultaneamente uma suma da trajetória poética de Andrade, em diálogo com seus poemas anteriores.

Mario de Andrade foi também um excelente escritor. Escreveu vários contos publicados Primeiro andar (1926) e Contos Novos (1946), bem como crônicas (Os Filhos da Candinha, 1945). Ele foi o autor de dois romances: Amar, verbo intransitivo (1927) e Macunaíma (1928). O primeiro causou um escândalo na época, uma vez que reconta a iniciação sexual de um adolescente com uma mulher madura, uma alemã contratada pelo pai do jovem. O segundo, desde sua primeira edição, é apresentado pelo autor como uma rapsódia, e não como romance, é considerado um dos romances capitais da literatura brasileira.

A fonte para Macunaíma principal vem do trabalho etnográfico do alemão Koch-Grünberg, conforme relata o proprio autor. Koch-Grünberg, no livro Von Roraima zum Orinoco, recolheu lendas e histórias dos índios taulipangues e arecunás, da Venezuela e Amazônia brasileira. A partir desses materiais, Andrade criou o que ele chamou rapsódia, um termo ligado a tradição oral da literatura. O livro editado por Tele Ancona Lopes possui extenso material sobre o intertexto deste livro.

O protagonista, Macunaíma, é chamado de "o herói sem nenhum caráter".

Bibliografia

• Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, 1917

• Pauliceia Desvairada, 1922

• A Escrava que Não É Isaura, 1925

• Losango Cáqui, 1926

• Primeiro Andar, 1926

• O clã do Jabuti, 1927

• Amar, Verbo Intransitivo, 1927

• Ensaios Sobra a Música Brasileira, 1928

• Macunaíma, 1928

• Compêndio Da História Da Música, 1929 (Reescrito como Pequena História da Música Brasileira, 1942)

• Modinhas Imperiais, 1930

• Remate de Males, 1930

• Música, Doce Música, 1933

• Belasarte, 1934

• O Aleijadinho de Álvares De Azevedo, 1935

• Lasar Segall, 1935

• Música do Brasil, 1941

• Poesias, 1941

• O Movimento Modernista, 1942

• O Baile das Quatro Artes, 1943

• Os Filhos da Candinha, 1943

• Aspectos da Literatura Brasileira 1943

• O Empalhador de Passarinhos, 1944

• Lira Paulistana, 1945

• O Carro da Miséria, 1947

• Contos Novos, 1947

• O Banquete, 1978 (Editado por Jorge Coli)

• Dicionário Musical Brasileiro, 1989 (editado por Flávia Toni)

• Será o Benedito!, 1992

• Introdução à estética musical, 1995 (editado por Flávia Toni)

Legado

Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um enfarte do miocárdio, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha 51 anos. Dadas as suas divergências com o regime, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicados em 1955, Poesias completas, quando já havia falecido Vargas, começou a consagração de Andrade como um dos principais valores culturais no Brasil. Em 1960 foi dado o seu nome à Biblioteca Municipal de São Paulo.

Apenas 50 anos após a morte do escritor a questão da sexualidade de Mário de Andrade foi abordada em livro por Moacir Werneck de Castro, que referiu que na sua roda de amigos não se suspeitava que fosse homossexual, "supúnhamos que fosse casto ou que tivesse amores secretos. Se era ou não, isso não afeta a sua obra, nem seu caráter". E só em 1990, o seu amigo António Cândido se referiu directamente ao assunto: "O Mário de Andrade era um caso muito complicado, era um bissexual, provavelmente". O episódio do rompimento de relações com Oswald de Andrade é hoje largamente citado: Oswald ironizou que Mário se "parecia com Oscar Wilde por detrás" e referia-se a ele como "Miss São Paulo". No entanto, persiste fortemente nos meios académicos um "silêncio" sobre o assunto, como se a discussão sobre a sexualidade do "pai" da cultura brasileira pudesse manchar o património genético intelectual brasileiro.

Mário na cultura popular

Mário de Andrade já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Paulo Hesse no filme O Homem do Pau-Brasil (1982) e Pascoal da Conceição nas minisséries Um Só Coração (2004) e JK (2006).